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Pontual, como sempre, vejo-te chegar da janela. Contrariamente ao que me é característico despacho-me antes da hora só para ter ver chegar, e atraso-me, atraso-me de propósito quando consigo conter a ansiedade, 5 minutos, o ideal seriam 10 mas no meu relógio biológico os 5 min são uma eternidade medida pelo o som do ponteiro a cada minuto que passa. Desço as escadas devagar, saboreio a cada passo o doce nervosismo que ainda hoje me arrepia a pele segundos, minutos, e as vezes horas antes de ir ter contigo. Abro a pesada porta do carro, sento-me ao teu lado e sim...o mundo pára. “Nunca damos dois beijos porque é um cliché parvo, mas tiras-me o ar” e a partir desse momento é Outono no teu carro e onde quer que estejamos, e as folhas estalam debaixo dos meus e teus, dos nossos pés, e a chuvinha cai sobre nós...
Detesto o regresso a casa, bem como a avenida que percorremos a 20 à hora mas o Ben Harper, o Jack Johnson e o teu ombro tornam tudo menos difícil, e até agradável de suportar. Deixas-me à porta de casa, para ti é bem mais cómodo, só tens de me ver partir , mas cabe-me a mim abrir e pior, fechar a pesada porta do carro, e não são as forças que me faltam...Subo as escadas, mais devagar ainda do que quando as desci e desta vez é a saudade imediata que saboreio e que me conduz à cama num flutuar reconfortante que me adormece calma e serena junto à tua, à minha, à nossa lembrança.

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