A idade apura os sentidos


A idade apurou-me principalmente a audição. Como se os meus ouvidos captassem agora, em separado, de forma individualizada todos os sons de uma maneira diferente, mais nitida e também mais perto do coração. Tenho os ouvidos no coração. E ouvem tudo como se pela primeira vez, com um deslubramento adolescente que me faz arrepiar cada centimetro quadrado de pele neste meu corpo já (ainda?) com 26 anos. Ouço jazz e aprecio música clássica como quem saboreia um doce de várias texturas e camadas e mastigo, mastigo, mastigo até absorver todos os sabores que puder. O crescendo, o staccatto ecoam dentro de mim, fazem-me crescer água na boca e eu não consigo evitar. A música, o gosto pela música é mais forte do que eu, é um vicio,  uma companhia que me guarda tantas e tantas vezes qual banda sonora de uma vida.E hoje o meu dia começou assim... 

Da cegueira (e) do amor.

O amor, aquilo que se deseja com um amor, de um amor, é necessariamente, o resultado de uma série de relações bem ou mal resolvidas ao longo das quais vamos compreendendo e separando o que gostamos do que não gostamos, o trigo do joio.
A sabedoria popular quase que cataloga os casais/relações em dois grupos: os que são idênticos, partilham os mesmos gostos e hábitos e os que são opostos. A mesma sabedoria diz que os opostos se atraem. Pessoalmente, e por experiência, não acredito nesta afirmação. Os opostos, afastam-se, sempre! "não se ama alguem que não ouve a mesma canção" já dizia o Rui Veloso, da mesma forma que não é fácil amar alguem que tem um ritmo biológico muito diferente do nosso e, por exemplo, se levanta às 15h da tarde ao fim-de-semana, quando nós nos levantávamos às 11h , 12h . Amar ama, mas não é viável. É necessário uma grande capacidade de ajuste para conseguir tal coisa. Ninguem consegue/deve faze-lo de forma tão drástica pois a probabilidade de acordar um dia e sentir-se farto é bastante elevada. Os hábitos, mais do que os interesses em comum, assumem assim uma grande importância numa relação.
Os gostos, por sua vez afectam indirectamente esses hábitos adquirindo assim também eles a sua importância na hierarquia de uma relação. Não é que seja fundamental, mas imagine-se um casal em que um gosta de heavy metal e o outro de jazz ou um gosta de fazer desporto e o outro não. Não há como partilhar momentos, desfrutar de uma música ou um filme a dois...Á parte disto tudo, o que interessa mesmo é ser-se cúmplice e companheiro, ver no outro alguêm com quem podemos contar acima de tudo para o bem e para o mal...e porque é que eu estou com esta conversa? não sei, talvez gostasse que alguem me tivesse dito isto, ou talvez não. Há coisas que temos de aprender por nós próprios, ser o pior cego por não querer ver e bater com a cabeça até ver novamente.


Para mais tarde recordar!



Hoje assinei o meu contrato de trabalho. Não queria deixar passar este dia em branco, não queria adormecer sem o escrever, sem descrever o conforto que foi, pela primeira vez sentir que realmente pertenço (profissionalmente) a algum lugar. Hoje senti-me "da casa", senti que visto uma camisola e que depois de tanto tempo e trabalho valeu a pena "afinal vale a pena!" Afinal, a sorte também se faz, mesmo para aqueles que não nascem para a lua. Sem cunhas nem intermediários, eu consegui chegar aqui e, nos dias de hoje, são poucos os que se podem gabar de ter o feito. Eu não precisei, ou melhor, precisei, mas não foi preciso. Corri a atrás, saí para a rua quando os outros ficaram em casa a enviar CV´s pelo correio electrónico, levei com portas na cara, nãos redondos, deram-me (falsas) esperanças. Talvez por isso me recorde quase ao pormenor da tarde em que por acaso, e já num acto de desespero, resolvi subir ao 1º andar do nº 99 da Avenida da República. Era Agosto, a temperatura rondava os 30º e eu saí para a rua logo cedo, de envelope na mão e com uma certeza inesplicável no coração. Sempre acreditei que quando se quer muito uma coisa e se luta por ela com amor, o universo todo conspira em nosso favor. E assim foi nesse dia. O desanimo de já ter entregue alguns CV´s fizeram-me párar, sentei-me num banco na Av. Estados Unidos da América e uma lágrima gorda contornou-me a face. Chorei sozinha, desejei estar acompanhada mas a certeza continuava lá. Enchoguei a cara e lembrei-me que talvez fosse boa ideia ir a uma tal clínica em Entrecampos antes de apanhar o comboio para a minha margem e dar por terminada a minha saga pessoal. Passado uns dias abriu uma vaga e a médica Fisiatra resolveu então chamar apenas os Fisioterapeutas cujos os Curriculos tivessem sido entregues pessoalmente. Hoje, mais do que ter assinado um contrato, sinto-me satisfeita porque faço o que gosto ao ponto de não me deixar estagnar e tentar sempre faze-lo melhor ainda. Que este post sirva de mensagem e dê motivação aos muitos que, como eu, lutam pelos seus sonhos.