O Amor é...



"Amor é quando alguém te magoa, e tu, mesmo muito magoado, não gritas, porque sabes que isso fere os sentimentos da outra pessoa."
Mathew, 6 anos.


"Quando minha avó ficou com artrite, e deixou de poder dobrar-se para pintar as unhas dos pés, o meu avô passou a pintar as unhas dela, apesar de ele também ter muita artrite."
Rebecca, 8 anos.




"Amor é quando uma menina põe perfume e o menino põe loção pós-barba, depois saem juntos e se cheiram um ao outro."
Karl, 5 anos.


"Amor é como uma velhinha e um velhinho que ainda são muito amigos, apesar de se conhecerem há muito tempo."
Tommy, 6 anos


"Quando alguém te ama, a forma de dizer o teu nome é diferente..."
Billy, 4 anos.


"Amor é quando tu sais para comer e ofereces as tuas batatinhas fritas sem esperar que a outra pessoa te ofereça as batatinhas dela."
Chrissy, 6 anos.


"Amor é quando minha mãe faz café para o meu pai e toma um gole antes, para ter certeza que está ao gosto dele."
Danny, 6 anos.


"Quando contas a alguém alguma coisa feia sobre ti próprio, e ficas com medo que essa pessoa por causa disso deixe de gostar de ti, ai ficas mesmo surpreendido, quando descobres que não só te continuam a amar, como ainda te amam mais!"
Samantha, 7 anos.


"Amor é quando a nossa mãe vê o nosso pai chegar suado e mal cheiroso,e ainda diz que ele é mais bonito que o Robert Redford!"
Chris, 8 anos.


Respotas de um grupo de crianças de 4 a 9 anos, durante uma pesquisa feita por profissionais de educação e psicologia à pergunta "O que é o amor?"


Apesar de ter as minhas duvidas quanto á credibilidade deste mail (duvido que uma criança de 7 anos saiba quem é o Robert Redford, mas é possível) achei que estava giro e que eu não diria melhor (",)
Em movimento...


15 horas e 53 minutos, o comboio parte e a paisagem corre lá fora ritmada com o som metálico dos carris enferrujados: arvores, arvores, arvores, fios eléctricos, fios eléctricos, chaminés, fios eléctricos, arvores pouca terra, pouca terra, azul, azul, rio azul (não é o meu mas começo já a gostar dele)...Praias do Sado é a primeira paragem e a minha segunda casa. Há quase um mês que aqui estou, e dos meus (tão adorados) rituais já faz parte andar de comboio. Acordo cedo, e às vezes, muitas vezes o sol esconde-se ainda no horizonte quando me sento no andar de cima da penúltima carruagem. E se Setúbal é a minha segunda casa, o comboio é a terceira, mas não me custa, nada me custa quando me lembro que é para lá que vou....e todos os dias, quando me sento novamente com eles, os futuros fisioterapeutas (como eu) , enfermeiros, terapeutas da fala no andar de cima da penúltima carruagem de regresso a casa é mais o que partilhamos uns com os outros, é mais o que aprendemos, e cada vez aprendemos mais , e cada vez queremos aprender mais e mais, temos fome, sede de saber.
Mas desta vez o comboio é outro, não há ar condicionado nem música clássica e desconfio que nem chão, mas nada disso importa, vou ter com ele ,é tudo o que eu quero. Não o vejo há uns dias, nunca sei quantos (não gosto de contagens) mas sei que senão são muitos, são os suficientes para me enfiar no comboio fantasma que vai para o Barreiro e esquecer-me do resto do mundo à medida que as praias do Sado vão ficando para traz. A viagem é agradável (mas lenta), vou observando detalhadamente cada uma das pessoas que entram e saem da carruagem, um olhar quase clinico sobre a forma como se movimentam numa tentativa de aplicação da última aula de “estudos do movimento humano”. A janela é outro escape à ansiedade que tento enganar. Do lado de lá vejo uma paragem, acho que a penúltima, (já falta pouco). No chão, carris enferrujados por todo o lado e ao fundo, um velho vagão estacionado em jeito de fotografia a Sépia tirada há já muito tempo.
16 horas e 40 minutos, o comboio pára : É tarde de outono na marginal barreirense e primavera na minha pele...*.
"olhe, era o costume se faz favor"




Não é de hoje o meu gosto pela a agitação citadina bem, vocês sabem ;). E aliada à cidade vem toda uma panóplia de rituais que mesmo que se realizem noutros locais, é na cidade que adquirem a forma mágica à luz alaranjada dos candeeiros.
Há dias, falava com o Zé sobre “Rotinas & Rotinas”, dava um belo titulo de programa de televisão, não dava? sempre era mais interessante que o Esquadrão G, mas isso é outra estória ;) . Chegámos então à conclusão que se destinguem dois tipos de rotina: a “má”, que se prende á monotonia das coisas feitas por obrigação, e uma rotina “boa”, que aconchega e que inconscientemente deixamos entranhar nos nossos corpos, não pela periodicidade com que se repete mas por nos saber tão bem que nem damos por ela. É nesta categoria que insiro os Rituais:
Recordo com saudade as sessões terapêuticas de sábado às 5 no café ao virar da esquina. Eram tardes de confissões entre lágrimas, sorrisos, cafés e açúcar , o doce e o amargo, tudo à mesa do café do costume.
“O costume” é outro prazer cosmopolita. O bom cosmopolita tem um prazer especial em dizer “olhe , é o costume sff”. Há todo um sentimento de conforto aliado á expressão que é, de certo modo, um estatuto e como tal demora tempo a ser adquirido: muitos fins de tarde, de noite passados num qualquer bar num qualquer canto escondido da cidade... Já para não falar na forma como o cosmopolita, depois de um concerto de jazz ao vivo, ou de uma peça de teatro, entoa a frase “último ferri”, “último comboio” “último qualquer coisa” há algo de mágico na sonoridade que (novamente, e desculpem a repetição) aconchega quase tanto como o caldo verde quentinho e o pão com chouriço quando a madrugada já vai alta.
Não podia deixar de mencionar o cartucho de jornal, ou mais frequentemente, de páginas amarelas com castanhas lá dentro no outono, em plena baixa pombalina...
Estes e outros prazeres são exemplos de rituais cosmopolitas. Gosto da palavra ritual pela misticidade quase religiosidade que implica, e é desta forma que encaro os meus que tanta satisfação me dão.

A propósito, fiquem com esta música da Mafalda que ilustra um tanto ou quanto o que quero dizer:


"Esperei-te no fim de um dia cansado
À mesa do café de sempre
O fumo, o calor e o mesmo quadro
Na parede já azul poente
Alguém me sorri do balcão corrido
Alguém que me faz sentir
Que há lugares que são pequenos abrigos
Para onde podemos sempre fugir

Da tarde tão fria há gente que chega
E toma um café apressado
E há os que entram com o olhar perdido
À procura do futuro no avesso do passado

O tempo endurece qualquer armadura
E às vezes custa arrancar
Muralhas erguidas à volta do peito
Que não deixam partir nem deixam chegar

O escuro lá fora incendeia as estrelas
AS janelas, os olhares, as ruas
Cá dentro o calor conforta os sentidos
Num pequeno reflexo da lua

Enquanto espero percorro os sinais
Do que fomos que ainda resiste
As marcas deixadas na alma e na pele
Do que foi feliz e do que foi triste

Sabe bem voltar-te a ver
Sabe bem quando estás ao meu lado
Quando o tempo me esvazia
Sabe bem o teu abraço fechado

E tudo o que me dás quando és
Guarida junto à tempestade
Os rumos para caminhar
No lado quente da saudade "