"Cheira a terra molhada"
...e à chuva já só fico eu...

Quando tudo era paz, e as nossas vozes ecoavam límpidas lá, no pequeno vale que durante muito tempo foi apenas nosso, o que eu imaginava do Mundo, do futuro estava longe da realidade que a distancia impôs entre nós...
Naquela altura, não havia maldade, não havia tempo, havia uma casa onde nunca existiu tristeza e a nossa alegria contagiava os demais que por ali deambulavam deliciados com as travessuras constantes.
Adorava-mos vestir roupas iguais, trocávamos imensas vezes de fita, de bonecas e depois de já termos ouvido do Pai, saíamos para a rua de mãos dadas com tanta força, como se a adivinhar que um dia nos iriam separar assim...
Lembro-me do teu cabelo, era loiro (e como eu te invejava por isso) , da tua voz, dos traços delicadamente desenhados no rosto que ainda hoje , em horas mortas, quando me afogo em nostalgia imagino tal e qual, com a mesma ingenuidade infantil que o tempo nos tirou. E como era bom não ligar ao que Pai dizia...tantas foram as vezes em que, lá na terra, fugíamos para a chuva, descalças, dançando e esbracejando sobre a areia molhada, acabando por sujar os nossos maravilhosos vestidos. Quando mexias os lábios e dizias baixinho - “Cheira a terra molhada” - sabia imediatamente que a próxima coisa a fazer era descalçar os sapatos e correr para a porta da rua antes que alguém nos visse...
Depois vieram os adultos...O tempo fluiu sem nós, o Eu e Tu ficaram perdidos, espalhados pelos retratos que, hoje são para mim viagens preciosas mas mais do que isso, uma forma de me manter perto de ti, de Nós...*


PS: Obrigada (...e também chorei)
Hummm, sabe tão bem...



Vi hoje da minha janela a Primavera acenar-me ao longe. Sorri-lhe, e de cabeça erguida inalei da sua brisa o melífluo crepúsculo que agora se fragmenta em réstias de uma agradável nostalgia e embate nas vidraças, todos os dias pintado-as em tons dourados do que ao longe se assemelha a reflexos de uma tela rabiscada por Monet...
Empoleirei-me na janela e ali fiquei deliciada, a receber desse fim de tarde o convite antecipado da noite que surgiu com o desvanecer do horizonte...

Não, eu não quero ser Só mais uma...


Ansiedade, sono, livros, canetas roídas, cansaço, muito cansaço e o tempo que corre alienado a dilacerar os dias cada vez mais curtos e preenchidos. No topo, o receio, o sempre inconveniente medo que obstina e teima em não largar os pensamentos. Medo do futuro próximo e principalmente a longo prazo. Recuso-me a ser uma frustada, e muito menos uma acomodada a uma rotina, um emprego que não me satisfazem...e pensar que há tanta gente assim, disposta a abdicar dos seus sonhos por uma realização aparente iludida com falsas convicções resultantes de uma qualquer impossibilidade que surgiu no caminho...Não os culpo, a vida ás vezes “força-nos” a seguir caminhos que não aqueles que pensámos mas, ainda assim há sempre uma força que resiste a todas as pressões exteriores e mantém o vivo o Sonho...



PS: O sacrifício dos exames está a começar, desejem-me sorte =)