Da cegueira (e) do amor.

O amor, aquilo que se deseja com um amor, de um amor, é necessariamente, o resultado de uma série de relações bem ou mal resolvidas ao longo das quais vamos compreendendo e separando o que gostamos do que não gostamos, o trigo do joio.
A sabedoria popular quase que cataloga os casais/relações em dois grupos: os que são idênticos, partilham os mesmos gostos e hábitos e os que são opostos. A mesma sabedoria diz que os opostos se atraem. Pessoalmente, e por experiência, não acredito nesta afirmação. Os opostos, afastam-se, sempre! "não se ama alguem que não ouve a mesma canção" já dizia o Rui Veloso, da mesma forma que não é fácil amar alguem que tem um ritmo biológico muito diferente do nosso e, por exemplo, se levanta às 15h da tarde ao fim-de-semana, quando nós nos levantávamos às 11h , 12h . Amar ama, mas não é viável. É necessário uma grande capacidade de ajuste para conseguir tal coisa. Ninguem consegue/deve faze-lo de forma tão drástica pois a probabilidade de acordar um dia e sentir-se farto é bastante elevada. Os hábitos, mais do que os interesses em comum, assumem assim uma grande importância numa relação.
Os gostos, por sua vez afectam indirectamente esses hábitos adquirindo assim também eles a sua importância na hierarquia de uma relação. Não é que seja fundamental, mas imagine-se um casal em que um gosta de heavy metal e o outro de jazz ou um gosta de fazer desporto e o outro não. Não há como partilhar momentos, desfrutar de uma música ou um filme a dois...Á parte disto tudo, o que interessa mesmo é ser-se cúmplice e companheiro, ver no outro alguêm com quem podemos contar acima de tudo para o bem e para o mal...e porque é que eu estou com esta conversa? não sei, talvez gostasse que alguem me tivesse dito isto, ou talvez não. Há coisas que temos de aprender por nós próprios, ser o pior cego por não querer ver e bater com a cabeça até ver novamente.