A idade apura os sentidos


A idade apurou-me principalmente a audição. Como se os meus ouvidos captassem agora, em separado, de forma individualizada todos os sons de uma maneira diferente, mais nitida e também mais perto do coração. Tenho os ouvidos no coração. E ouvem tudo como se pela primeira vez, com um deslubramento adolescente que me faz arrepiar cada centimetro quadrado de pele neste meu corpo já (ainda?) com 26 anos. Ouço jazz e aprecio música clássica como quem saboreia um doce de várias texturas e camadas e mastigo, mastigo, mastigo até absorver todos os sabores que puder. O crescendo, o staccatto ecoam dentro de mim, fazem-me crescer água na boca e eu não consigo evitar. A música, o gosto pela música é mais forte do que eu, é um vicio,  uma companhia que me guarda tantas e tantas vezes qual banda sonora de uma vida.E hoje o meu dia começou assim...