Lisboa sempre foi Minha.




Se a minha vida fosse um romance,  seria passado em Lisboa, entre o castelo e a Graça, Alfama, o bairro alto e a Bica. Teria uma cena no antigo cinema Quarteto e o seu tão característico cheiro a verniz e ao veludo encarnado das cadeiras. Intercalaria entre os jardins da Gulbenkian e os do CCB e terminaria a tarde numa esplanada panorâmica do príncipe real. Jantaria no Paparrucha ou no Buenos Aires Café e uma ou outra cena passada no Chapitô com um copo de cocktail na mão. Também não faltaria o fado da Bela Vinhos e Petiscos nem a agitação dos Santos Populares, as cores, os sons, numa cena embriagada e esquizofrénica. Casa é onde está o coração e o meu começou a bater a norte da ponte. Bateu, parou, morreu adolescentemente e voltou a fazer-se ouvir a cada regresso a "casa".

Quem me dera não ser tão exigente.



Comigo, com os outros, com tudo no geral. A felicidade está mais próxima dos que se contentam. Não se trata de encontrar a perfeição em todas as coisas mas da sensação de harmonia que se sente quando algo está onde deve estar, como aquele quadro na parede que se endireita ou aquele lápis que se coloca na caixa no seguimento do degrade. Sou um bocado assim, um bocado "arrumadinha". É um caminho penoso também,  são muitas as expectativas, mais ainda as desilusões mas quando algo de bom realmente acontece e o quadro se endireita na parede é novamente a sensação de imperturbabilidade que se instala...e só por isso, já vale a pena.