Ontem, ao jantar (cumprimentos ao senhor cozinheiro pelos maravilhosos bifes com molho tropical), falava-se de medos. Sou uma pessoa relativamente medrosa, tenho alguns, não diria medos, mas coisas que me assustam e fazem vibrar a minha estrutura molecular a uma frequência acima do normal.
No domínio do irracional, assusta-me a hipótese de ser enterrada viva. A minha madrinha contava-me que, na sua juventude, se falava muito de haver surpresas desagradáveis, quando se faziam as transladações dos corpos, nos cemitérios. A estória que contam do Carlos Paião e dos arranhões encontrados no caixão . Sei que é mórbido, mas desde essa altura fiquei com o pânico de que me pudesse acontecer o mesmo a mim. Por isso, quero ser cremada. Chamem-me louca paranóica! No entanto, a minha claustrofobia não se resume a este mito, que o Hitchcock tratou da melhor maneira num episódio lendário, em que um preso fazia um trato com um coveiro. Dificilmente me apanham numa gruta, e muito menos numa mina ou submarino, se é que me faço entender. Por outro lado, ando na boa de metro e os elevadores não me assustam. Incoerências.
Tenho medo de um dia olhar para o espelho e ver os meus olhos assim. Baços. Com aquela certeza de que é demasiado tarde para se concretizar aquilo que um dia se ousou sonhar.
Tenho medo de escadas sombrias e becos sem saída. Quando me encontro num destes dois locais, sinto logo "presenças", "respirações" e afins e dou comigo a imaginar uma cena de um filme de gangsters comigo a servir de vitima ou moeda de troca.
Tenho medo de não estar à altura. Do que todos esperam de mim. Do que eu espero de mim. Mas sobretudo, de me cegar na busca de reconhecimento alheio, deixando para trás tudo aquilo que EU quero para mim - e que é bem mais simples que aquilo que o Mundo e arredores espera de mim...
Et voilá..Tenho outros medos (ainda) mais sérios, mas esses são terrivelmente aborrecidos.... Agora passo-vos a batata quente e digam-me vocês os medos que vos atormentam.
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