Lisboa outra e outra vez


Sentada, de pés descalços sobre o banco do carro onde há uma hora e meia viajo ansiosa pela chegada, perco-me na paisagem que incessantemente corre lá fora sobre o tapete de alcatrão cinzento. É bom estar de volta e ver ao longe as luzes da minha cidade. Tinha saudades Dela, de a ver assim, bela adormecida sobre o rio, de vestido escuro noite estrelada e cigarrilha a esfumaçar-se em nevoeiro por entre as 7 colinas...
E os ferris ! daqui não os vejo, mas imagino-os ligeiros sobre as águas que a madrugada acalma. Também tenho saudades deles, do último que parte do cais a flutuar sobre a noite com a brisa a arrepiar a alma e a pele de quem nele viaja apaixonado...Daqui não vejo os ferris, mas vejo a Ponte brilhar cintilante, qual constelação estendida entre margens...É impossível não gostar Dela, mas eu sou suspeita, vejo-a para além da cidade: vejo os passos nas calçadas, os livros nas livrarias, o vinil em segunda mão tocar embriagado num gira-discos à janela, o cheiro do chá que ficou por beber naquela noite, e oiço os trovadores pelas ruas, a cantar canções que poucos entendem , é pra eles que as cantam em banda sonora boémia de uma curta metragem, tão curta quanto a noite que passa a correr até o ultimo ferri chegar outra vez...Na minha cidade tudo é luz, magia e paixão e tudo me lembra de ti !


24/08/05- Escrito em viagem

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