Depois...



Sentei-me na orla da tarde espreitando a noite cair fria, distante sobre o manto de luz difusa que se dissipava no céu azul celeste.
No quarto, queimava o incenso lentamente cobrindo a atmosfera de um estranho odor, e na cama, enquanto velas derretiam a cera escarlate dos eremíticos dias de saudade, repousava cansado um corpo moreno embrulhado no solitário lençol encerrado em suor.
Observei de longe sua pele despida, como é bela a nudez...nada é mais forte do que a imagem de um corpo nu, desprotegido, frágil e simultaneamente repleto de uma força imensa .
Enquanto o olhava, sustinha na mão uma chávena de café que arrefecia esperando a amargura desvanecer ; na outra oscilava insegura uma caneta roída, sem tinta e gasta de tanta força , de tanta fúria das palavras que em mim fluem quando a paixão se dilui no desejo calando as bocas amordaçadas pela vontade contida.
As palavras são belas, grandiosas, magníficas é verdade mas, por vezes nenhum verso soa mais alto que o poema da alma em comunhão com a essência do Mundo. O silencio reina imponente sempre que os olhares dos amantes se cruzam no fulgor da paixão...
E aquele olhar, jamais o esquecerei, doce, tão doce como a ternura do seu toque.

E agora, que na cama só já repousa o triste lençol, não é a ausência do vulto bronze que torna vazio este espaço mas sim a sua omnipresença constante...

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