Triste, mas bonito...


"Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada."

Miguel Torga

Acordar de manhã sem saber onde irá terminar o dia, conhecer novas pessoas, combinar saídas à última hora com amigos “porque a última é sempre a melhor hora para se combinar seja o que for”…não é de hoje o meu gosto pelo inesperado, e é fácil de entender porquê. É bom sentir que as coisas estão sempre a correr, não há tempo para pensar no que vem a seguir, e as expectativas não se chegam sequer a formar na minha cabeça e no meu coração sedentos de emoção. Como diz o Jorge palma “Para quê fazer (grandes) projectos, quando sai tudo ao contrário?”. Mas se há dias em que acordo com este sentir, também os há em que dou comigo a saborear os pequenos momentos que, inintencionalmente, se foram instalando nos meus dias, sem que os deixasse de saborear intensamente. O café que tomo como a minha mãe aos fins-de-semana, as incursões sazonais da Paula a Lisboa, o telefonema digestivo a seguir ao almoço, e sim, ter dois braços à minha espera no final do dia… A virtude está no meio, e no meio está a lucidez, a capacidade de gerir as nossas necessidades e desejos e perceber que se é bom viver no limite, também é saudável cultivar “rituais” pois não há melhor sensação que a segurança, o conforto dos braços, dos olhares, dos sorrisos, das palavras e dos silêncios dos contemplados dos nossos corações...
“Nenhum homem é uma ilha”





Nenhum homem é uma ilha, ninguém existe sozinho, rodeado de água por todos os lados. Somos rodeados por pessoas que vêm e que vão, algumas que permanecem por pouco tempo, outras que sempre fizeram parte das nossas vidas, e outras ainda que hão-de chegar. A vida é assim e não podia ser de outra maneira. Somos nós e todos os que nos rodeiam ou rodearam algum dia.. Nós e os momentos que guardamos e recordamos em silêncio … momentos e pessoas cuja imortalidade reside não na sua permanência no tempo e no espaço, mas na plenitude com que as/os experienciamos. O importante não é pois que as coisas durem para sempre, o importante é que sejam eternas pela memória sublime que temos delas, sendo pouco compensadora a tentativa forçada de perpetuar algo … Na vez disso, e porque a alma não é pequena, valerá mais procurar que esse algo seja “eterno enquanto dure”…