Velha Infância

Deixada ao abandono, seguia triste, sozinha pela manha dolente...
Caminhava devagar com a sensação estranha de quem regressa deixando atras de si o rasto prateado do que foi e não volta a ser...
Debaixo dos pés, emergiam pequenos estalidos bem menores do que aqueles que na sua cabeça ecoavam distantes...eram os restos perdidos da estação passada que persistia : no chão, folhas caídas prontas a serem despedaças e pisadas ( e como ela adorava ouvir o som estridente da destruição ) e no horizonte vestígios insignificantes do lúgubre astro maior...
Nada a deixava mais nostálgica do que aquelas manhãs enfadonhas que lembravam outras passadas num tempo longínquo em que nada parecia estar em harmonia com nada...e ela, dispersa na sua fantasia habitual de criança perdida permanecia estática deixando-se invadir infantilmente pela névoa que lhe cobria os olhos entristecidos, inactivos nas orbitas. Seus olhos eram fortes (lembravam os dele), de uma concupiscência tal que, mesmo quando a tremura os atingia, brilhavam como luas novas suspensas no negro céu . Só ele calava o medo que eles encerravam sempre que o escuro chegava sem avisar...
Mas era o silencio de quando ele não estava que a rasgava em estilhaços tristes e a comia interiormente como se um vazio enorme se apodera-se daquele pequeno coração tão frágil...

um abraço Pai*

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