E depois há os reais. Aqueles que são porque só sabem ser. São poucos. Não conheços muitos. Não são perfeitos. Nunca foram. Ninguem é. Eu gostava de ser. De dar toda a atenção que tenho a quem a merece. De puder transformar um bocadinho daquilo que sinto por eles em coisas materiais. Daquelas que talvez o dinheiro compre mas que só o amor sabe quanto vale…
Ninguém me merece.

Lisboa sempre foi Minha.




Se a minha vida fosse um romance,  seria passado em Lisboa, entre o castelo e a Graça, Alfama, o bairro alto e a Bica. Teria uma cena no antigo cinema Quarteto e o seu tão característico cheiro a verniz e ao veludo encarnado das cadeiras. Intercalaria entre os jardins da Gulbenkian e os do CCB e terminaria a tarde numa esplanada panorâmica do príncipe real. Jantaria no Paparrucha ou no Buenos Aires Café e uma ou outra cena passada no Chapitô com um copo de cocktail na mão. Também não faltaria o fado da Bela Vinhos e Petiscos nem a agitação dos Santos Populares, as cores, os sons, numa cena embriagada e esquizofrénica. Casa é onde está o coração e o meu começou a bater a norte da ponte. Bateu, parou, morreu adolescentemente e voltou a fazer-se ouvir a cada regresso a "casa".

Quem me dera não ser tão exigente.



Comigo, com os outros, com tudo no geral. A felicidade está mais próxima dos que se contentam. Não se trata de encontrar a perfeição em todas as coisas mas da sensação de harmonia que se sente quando algo está onde deve estar, como aquele quadro na parede que se endireita ou aquele lápis que se coloca na caixa no seguimento do degrade. Sou um bocado assim, um bocado "arrumadinha". É um caminho penoso também,  são muitas as expectativas, mais ainda as desilusões mas quando algo de bom realmente acontece e o quadro se endireita na parede é novamente a sensação de imperturbabilidade que se instala...e só por isso, já vale a pena.

A idade apura os sentidos


A idade apurou-me principalmente a audição. Como se os meus ouvidos captassem agora, em separado, de forma individualizada todos os sons de uma maneira diferente, mais nitida e também mais perto do coração. Tenho os ouvidos no coração. E ouvem tudo como se pela primeira vez, com um deslubramento adolescente que me faz arrepiar cada centimetro quadrado de pele neste meu corpo já (ainda?) com 26 anos. Ouço jazz e aprecio música clássica como quem saboreia um doce de várias texturas e camadas e mastigo, mastigo, mastigo até absorver todos os sabores que puder. O crescendo, o staccatto ecoam dentro de mim, fazem-me crescer água na boca e eu não consigo evitar. A música, o gosto pela música é mais forte do que eu, é um vicio,  uma companhia que me guarda tantas e tantas vezes qual banda sonora de uma vida.E hoje o meu dia começou assim... 

Da cegueira (e) do amor.

O amor, aquilo que se deseja com um amor, de um amor, é necessariamente, o resultado de uma série de relações bem ou mal resolvidas ao longo das quais vamos compreendendo e separando o que gostamos do que não gostamos, o trigo do joio.
A sabedoria popular quase que cataloga os casais/relações em dois grupos: os que são idênticos, partilham os mesmos gostos e hábitos e os que são opostos. A mesma sabedoria diz que os opostos se atraem. Pessoalmente, e por experiência, não acredito nesta afirmação. Os opostos, afastam-se, sempre! "não se ama alguem que não ouve a mesma canção" já dizia o Rui Veloso, da mesma forma que não é fácil amar alguem que tem um ritmo biológico muito diferente do nosso e, por exemplo, se levanta às 15h da tarde ao fim-de-semana, quando nós nos levantávamos às 11h , 12h . Amar ama, mas não é viável. É necessário uma grande capacidade de ajuste para conseguir tal coisa. Ninguem consegue/deve faze-lo de forma tão drástica pois a probabilidade de acordar um dia e sentir-se farto é bastante elevada. Os hábitos, mais do que os interesses em comum, assumem assim uma grande importância numa relação.
Os gostos, por sua vez afectam indirectamente esses hábitos adquirindo assim também eles a sua importância na hierarquia de uma relação. Não é que seja fundamental, mas imagine-se um casal em que um gosta de heavy metal e o outro de jazz ou um gosta de fazer desporto e o outro não. Não há como partilhar momentos, desfrutar de uma música ou um filme a dois...Á parte disto tudo, o que interessa mesmo é ser-se cúmplice e companheiro, ver no outro alguêm com quem podemos contar acima de tudo para o bem e para o mal...e porque é que eu estou com esta conversa? não sei, talvez gostasse que alguem me tivesse dito isto, ou talvez não. Há coisas que temos de aprender por nós próprios, ser o pior cego por não querer ver e bater com a cabeça até ver novamente.


Para mais tarde recordar!



Hoje assinei o meu contrato de trabalho. Não queria deixar passar este dia em branco, não queria adormecer sem o escrever, sem descrever o conforto que foi, pela primeira vez sentir que realmente pertenço (profissionalmente) a algum lugar. Hoje senti-me "da casa", senti que visto uma camisola e que depois de tanto tempo e trabalho valeu a pena "afinal vale a pena!" Afinal, a sorte também se faz, mesmo para aqueles que não nascem para a lua. Sem cunhas nem intermediários, eu consegui chegar aqui e, nos dias de hoje, são poucos os que se podem gabar de ter o feito. Eu não precisei, ou melhor, precisei, mas não foi preciso. Corri a atrás, saí para a rua quando os outros ficaram em casa a enviar CV´s pelo correio electrónico, levei com portas na cara, nãos redondos, deram-me (falsas) esperanças. Talvez por isso me recorde quase ao pormenor da tarde em que por acaso, e já num acto de desespero, resolvi subir ao 1º andar do nº 99 da Avenida da República. Era Agosto, a temperatura rondava os 30º e eu saí para a rua logo cedo, de envelope na mão e com uma certeza inesplicável no coração. Sempre acreditei que quando se quer muito uma coisa e se luta por ela com amor, o universo todo conspira em nosso favor. E assim foi nesse dia. O desanimo de já ter entregue alguns CV´s fizeram-me párar, sentei-me num banco na Av. Estados Unidos da América e uma lágrima gorda contornou-me a face. Chorei sozinha, desejei estar acompanhada mas a certeza continuava lá. Enchoguei a cara e lembrei-me que talvez fosse boa ideia ir a uma tal clínica em Entrecampos antes de apanhar o comboio para a minha margem e dar por terminada a minha saga pessoal. Passado uns dias abriu uma vaga e a médica Fisiatra resolveu então chamar apenas os Fisioterapeutas cujos os Curriculos tivessem sido entregues pessoalmente. Hoje, mais do que ter assinado um contrato, sinto-me satisfeita porque faço o que gosto ao ponto de não me deixar estagnar e tentar sempre faze-lo melhor ainda. Que este post sirva de mensagem e dê motivação aos muitos que, como eu, lutam pelos seus sonhos.
Apontamento fim de Verão...




Sento-me na janela e fumo um cigarro devagar. O jorge palma canta baixinho, no concerto mais pequeno do mundo, e a vela arde tão devagar quanto o fumo que serpenteia janela fora...
Seasons may change ...





É verdade que já sinto uma pontinha daquela depressão que se abate sobre nós quando às oito da noite já não é bem de dia ou quando se sente que ir para a praia já é um bocadinho estranho. Apesar disso, e de como já disse várias vezes, não gostar de criar expectativas, este ano encaro com alguma satisfação a chegada do Outono por vários motivos que se prendem com os (também ja tantas vezes mencionados) "contemplados do meu coração". A Paula, que me abandonou a meio do curso e a qual tomou por refúgio dos últimos 4 anos a cidade dos estudantes, resolveu finalmente voltar a Lisboa, à nossa Lisboa, das sete colinas, das tertúlias iterenantes e das estórias bizarras; a minha irmã, que aos poucos volta a ser uma presença mais frequente no meu quotidiano; a Sara, que continua igual a ela mesma e a partilhar novas e velhas paixões, o gosto pelas coisas pequenas, os detalhes e os nossos rituais; e por fim (mas não em último) o Miguel, cujo o destino se cruzou com o meu e desde então somos a melhor dupla de criminosos de que há memória, qual Bonnie and Clyde.

Antevejo um Outono tranquilo, o princípio de uma imensa sensação de paz , saber que é isto, deixar de esperar. Podem cair as folhas, ruir os céus que eu vou estar aqui, nalguma tarde a beber um chá ou a fazer incursões fotograficas, nalguma noite a jantar sushi e a beber um bom vinho tinto ao ritmo lento das conversas prazeirosas. A verdade é que os dias já estão mais curtos, e a brisa sopra mais forte mas eu tenho Verão cá dentro e tudo em mim é feito desse calor.
Um rascunho pseudo-dedicado

Se dedicasse alguma coisa a alguém, seria à minha mãe. A minha mãe é sem a menor sombra de dúvida a pessoa que eu mais admiro. Não, não sou menina da mamã, , mas olho para ela e sinto-me orgulhosa de a ter por perto. E admiro-a por ser lutadora, por ter tido a coragem, a ousadia de vir para a grande cidade tirar um curso superior (na altura não era assim tão usual-talvez também por isso houvesse mais emprego, mas isso são outras conversas) e trabalhar ao mesmo tempo, comprar uma casa, criar uma filha. Tudo isto sem nunca deixar de ser genuína, simples e sem se achar mais que ninguém. Mas para mim é mais que muita gente. É o exemplo do que deve ser uma mulher contemporânea independente e com ambição (diferente de ser gananciosa). Obrigada mãe, já não se fazem pessoas como tu e eu só sou o que sou hoje graças a ti. Desculpa qualquer coisa, as birras e as chatices, as noitadas e o quarto (por vezes) desarrumado. Eu amo-te muito e nem sempre sei como demonstra-lo. Hoje faço-o desta maneira.

Pode ser que um dia te orgulhes de mim como eu me orgulho de ti.

Epifania

Todos os dias acordo com uma certeza maior, a minha felicidade vem, em grande parte, da felicidade dos outros. Nos últimos anos cresceu em mim algo mais do que vontade, um desejo de ajudar quem mais precisa. Não se descreve um sorriso, não se escreve um olhar de alguém que se acabou de ajudar, é talvez o sentimento mais genuíno que se pode sentir, é amor. O meu coração cresceu (envelheu?) nos últimos tempos e, se antes a minha felicidade passava apenas pela satisfação das minhas necessidades, hoje vai muito além disso. Não sei dizer o que se passou em mim, o que me aconteceu, a verdade é que se durante algum tempo andei sem saber bem qual era a minha vocação, hoje sei que ela passar por ajudar os outros…soa a cliché, mas não é!

Chega-se a adulto e deixa-se o blog morrer...


….mas pensa-se todos os dias nele e adormece-se sempre com a inspiração a espreitar entre o sono e o sonho até o cansaço vencer e a inspiração desvanecer novamente . Passaram sete meses desde o ultimo post... É incrível como o tempo passa a correr. É óbvio que não me sobra muito tempo para me dedicar às coisas que gosto para que possa ter forças para desempenhar a minha profissão de fisioterapeuta e arrancar sorrisos dos olhos dos meus utentes. Agora mesmo deveria estar a preparar a classe de exercícios para as dores lombares de amanhã e a registar a progressão do meu pequeno querubim de 9 mesinhos com uma bronquiolite, mas lembrei-me deste espaço comum, da cumpl1ce, de como tenho saudades dela e dos momentos em que me sentava ao computador com uma vontade imensa de despejar a emoção que me corria pelo corpo. Ainda me emociono, talvez hoje mais do que antes, o ano de 2010 trouxe-me muito mais do que me recordo de desejar no reveillon. Começou por ser um inverno muito chuvoso e demasiado escuro, mas antes mesmo da Primavera chegar, o meu coração voltou a aquecer e desta vez, de uma maneira diferente: as preocupações foram passando para segundo plano. Sentia-me radiosa por finalmente ter encontrado mais do que um amor, um amigo. Entretanto, e apesar das minhas amigas estarem longe, nunca me senti só, senti (continuo a sentir) saudades sim, de cada vez que me debruçava numa qualquer colina de Lisboa ou estreava um filme daqueles que nós gostamos… Mas nem assim esmoreci, lentamente, comecei a sentir que foi (é) um privilegio ter as amigas que tenho e que ainda que os Km que nos separam sejam mais do que aqueles que marca o conta-kilometros do meu carro novo (outro “presente” deste ano), no meu coração estará sempre reservado um grande duplex com vista para o Tejo, vinis espalhados pelo chão e livros nas mesinhas de cabeceira. Estou feliz, dou o braço a torcer e assumo que a vida não me trata mal, pelo contrário, e que muitas vezes me mima. E termino a pensar como é bom ouvir as palavras que escapam aos outros, como somos mais felizes quando somos genuínos, como sabe bem fazer um mimo a quem merece... Apesar de tudo, de alguns infortúnios, das contrariedades mínimas e médias, a vida vai-me correndo bem, desliza e eu deslizo com ela.

E se o corpo, esse viaduto da alma, não existisse? Se fossemos só alma, uma camada de pó reluzente de várias cores, será que as relações humanas seriam as mesmas? Até que ponto o corpo assume um papel importante em tudo aquilo que fazemos? Tenho a certeza que seria tudo muito diferente, porque se é verdade que o corpo/aparencia facilita as coisas para alguns também prejudica para outros. Por exemplo, possivelmente, muitas das pessoas que se sentem bem consigo mesmas apenas por serem bonitos ou elegantes, deixariam de o ser e o contrário também seria verdade, ou seja, pessoas menos atraentes fisicamente, mas fieis a si próprias e aos seus valores, ir-se-iam sentir maravilhosamente na sua não-pele. Não quero com isto desvalorizar a aparência, ela é importante e em (pen)última análise, também reflecte bastante do que somos: a postura, a forma como nos movimentamos e relacionamos com o espaço (e disso entendo eu!) mas, apesar de tudo isso, não pode(deve) ser o mais importante pois convinhamos, é muito mais fácil ser-se bonito a ser-se leal aos nossos valores, dá mais trabalho, horas de sono perdidas e se calhar uma outra ruga no rosto. E quando penso e escrevo sobre isto, faço-o para mim, para me relembrar porque muitas vezes também eu me esqueço, também eu me deixo corromper e enganar pelas aparências que frequentemente pouco ou nada têm a ver o sumo, a massa de que as pessoas são feitas.


Aurea Mediocritas

"E um só momento nos sentimos deuses
Imortais pela calma que vestimos
E a altiva indiferença
Às coisas passageiras "


"Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim como em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.”

Ricardo Reis


Há em Ricardo Reis, heterónimo de Pessoa, uma leveza nas palavras, uma tranquilidade que me acalma o coração. A procura do equilíbrio como caminho da felicidade, e a racionalidade com que exalta a sabedoria que é aproveitar o presente... porque a vida é fugaz e efémera, ao contrário de alguns momentos que se forem saboreados devidamente (com tudo o que isto tem de subjectivo) se tornam eternos nas nossas memórias.
É este sentimento que busco, a satisfação de viver cada dia intensamente mas sem tirar os pés do chão...e o desafio é este mesmo, a procura do "meio termo", da virtude e da loucura saudável que nos diferencia e impulsiona...pois o doce, não seria tão doce sem o amargo, e talvez por isso, saiba tão bem de vez em quando, por breves instantes, fechar o olhos e sentir-me levitar um bocadinho , pairar sobre as coisas más (como dizia a fada oriana da Sophia de Mello Breyner).