Pouco a pouco, entranha-se na minha pele, nos meus ossos, como um hábito que custa a assimilar, mas uma vez enraizado não se quer ver partir - O inverno. Sabem bem estes dias solarengos em que até o frio parece dissipar-se quando passeamos de mãos dadas pelas avenidas, e nos jardins brincam netos e avós num eterno “domingo de passeio”. Mesmo quando o frio não desaparece , a vontade é de sair para rua, deitar na relva e ali ficar horas de expressão torcida em caretas e olhos quase fechados, encadeados pelos sol, a contar a imensidão de formas que as nuvens algodão doce adquirem sob o céu azul celeste deste Inverno encantado.
E a juntar ao, só por si já tão, mágico Inverno a minha adorada “azafama natalícia”. É um clássico aqui do sitio, todos os anos falo nela e cada vez me fascina mais. É intrínseca esta nostalgia que me invade o coração quando as primeiras luzes enfeitam as avenidas da minha cidade e brilham tímidas num tom “dourado crepúsculo tardio” por entre as cortinas de todas as casas...apetece entrar nelas, fazer parte daquelas sombras que se movem contentes em torno das arvores e partilhar a alegria do Natal em cada família.
Eu que, ao contrário do meu querido, fui novamente invadida pelo espirito natalício daquela maneira quase melodiosa que todos anos me arranca de casa para as ruas da baixa, chiado e bairro alto à procura das tão desejadas prendas. Não se sei gosto mais de recebe-las, se de procura-las. Gostava de dizer que me esforço com os presentes, que penso previamente em casa cada uma, mas é mentira, o meu ritual de compras natalícias é bem mais simples. Resume-se a entrar e sair de lojas que gosto, e à medida que o vou fazendo, vou “dando de caras” com este ou aquele objecto que tem a ver especialmente com esta ou aquela pessoa, e é um prazer fazer compras assim. Nada de muito dispendioso claro, mas isso não é impedimento.
Este ano demorei horas a acabar as compras de natal, não por estar indecisa (quer dizer, também) mas porque em cada loja o funcionário que nos atendia a mim e a Margarida, não sei se por ser natal, era mais simpático que o anterior: ora contavam a estorias sobre determinado artigo, ora referiam notas culturais sempre boas de se dar aquando da oferta de um presente, todo o tipo de conversas que nós fazem demorar com gosto numa loja e atrasam o que temos para fazer a seguir com um “Feliz Natal e Boas Festas”. E é nestas alturas, quando nos despedimos a correr de alguém e nos lembramos de dizer “ahh Feliz Natal e senão te vir até lá...Feliz Ano Novo” que toda esta quadra adquire o sentido que lhe é devido.
Falta dois dias para o Natal, e não vejo a hora de me sentir rodeada pela minha familia, e ver nos sorrisos de cada um a verdadeira razão do Natal.
...e com isto apetece desejar Feliz Natal a toda a gente: Feliz Natal à Margarida que me acompanhou na “saga das compras de natal”, à Sarinha que não nos pode acompanhar, Feliz Natal ao Tiaguinho, Feliz Natal ao Zé, meu querido...ao João, à Vania, ao Pré, à Odilia, ao João, ao Luís, ao Almeida, ao Branquinho, à Paula, à Covas, ao Diogo, ao “Manel”, ao Hugo, à “Fisga”, à Castro Verde, à Sarinha e ao Rafael de Aljustrel e a todos os outros que aqui não estão ,mas sabem que também é para eles o meu sincero desejo de um Feliz Natal “não foi esquecimento, espreitam dentro do meu coração”
Feliz Natal!


Frio, chuva, vento...são o tipo de coisas que não dão jeito nenhum a quem, como eu anda fora de casa o dia todo: não gosto de acabar o dia ensopada em chuva salgada que me caiu em cima no curto espaço de tempo que demoro da estação dos comboios ao carro; não gosto de ter constantemente a ponta do nariz gelada (nomeadamente quando ele não está por perto para a aquecer) ; não gosto de olhar pela janela às seis da tarde e já não haver sol (quando o há durante o dia, porque às vezes nem isso)...
15 horas e 53 minutos, o comboio parte e a paisagem corre lá fora ritmada com o som metálico dos carris enferrujados: arvores, arvores, arvores, fios eléctricos, fios eléctricos, chaminés, fios eléctricos, arvores pouca terra, pouca terra, azul, azul, rio azul (não é o meu mas começo já a gostar dele)...Praias do Sado é a primeira paragem e a minha segunda casa. Há quase um mês que aqui estou, e dos meus (tão adorados) rituais já faz parte andar de comboio. Acordo cedo, e às vezes, muitas vezes o sol esconde-se ainda no horizonte quando me sento no andar de cima da penúltima carruagem. E se Setúbal é a minha segunda casa, o comboio é a terceira, mas não me custa, nada me custa quando me lembro que é para lá que vou....e todos os dias, quando me sento novamente com eles, os futuros fisioterapeutas (como eu) , enfermeiros, terapeutas da fala no andar de cima da penúltima carruagem de regresso a casa é mais o que partilhamos uns com os outros, é mais o que aprendemos, e cada vez aprendemos mais , e cada vez queremos aprender mais e mais, temos fome, sede de saber.

Chuvinha, sabe bem vê-la cair daqui, e recordar-me do tudo de bom que ela evoca: o cheiro a terra molhada, aquela tarde na praia, o chá entre amigas...Eu que pensava odia-la, afinal não só gosto como sentia já a sua falta. E hoje, ao acordar, foi imediato o sorriso que esbocei inconsciente no meu rosto quando à janela vi cair gotas frescas que se aderiam em fila ao cordão do estendal antes de caírem gordas no chão, nas poças enlameadas, mesmo a apetecer chapinhar em cima delas com galochas, chapéu de chuva às bolinhas e gabardina a condizer...

Sentada, de pés descalços sobre o banco do carro onde há uma hora e meia viajo ansiosa pela chegada, perco-me na paisagem que incessantemente corre lá fora sobre o tapete de alcatrão cinzento. É bom estar de volta e ver ao longe as luzes da minha cidade. Tinha saudades Dela, de a ver assim, bela adormecida sobre o rio, de vestido escuro noite estrelada e cigarrilha a esfumaçar-se em nevoeiro por entre as 7 colinas...
praia “do costume” onde nos espojamos todas as tardes de olhos fechados a receber do sol a energia que a noite nos roubava e até a escova de dentes que usavas para esfregar o sorriso que eu tanto adoro...deixam-me imediatamente com saudades.
...dizes-me assim devagar, baixinho ao ouvido enquanto deliciosamente enrolas a língua e deslizas por mim a fora numa ansiedade infantil que o teu olhar não esconde, não a mim que te conheço desde sempre, desde o meu sonho, esse em que te sonhei perfeito, completo, igual ao que és, ao que eu sou, lembras-te? Eu sei que sim, também sonhavas comigo, e oferecias-me “Beijos” em forma de dedal, e comíamos gelado ao lanche, ao pequeno almoço e ficávamos horas a dizer o tudo e o nada que só nós compreendemos. Eu sonhava com o teu sorriso, sonhava que era do tamanho da lua e nunca pensei que fosse tão grande...Agora, brilhante astronauta que me tornei, trepo por ti acima com uma facilidade a desafiar a gravidade, a desafiar os teus braços enquanto me “acerco a ti” e te envolvo entre as minhas pernas com a pouca força que me resta...
minutos, e as vezes horas antes de ir ter contigo. Abro a pesada porta do carro, sento-me ao teu lado e sim...o mundo pára. “Nunca damos dois beijos porque é um cliché parvo, mas tiras-me o ar” e a partir desse momento é Outono no teu carro e onde quer que estejamos, e as folhas estalam debaixo dos meus e teus, dos nossos pés, e a chuvinha cai sobre nós...
Dou comigo a pensar neste excerto vezes sem conta e só consigo ver verdade nas palavras...Já tinham pensado nisto? Em como os funerais nos apagam do mundo e por momentos nos fazem pensar em como a vida deve ser preservada e saboreada da melhor maneira? Em alturas como esta pergunto-me porque insistimos em dar importância a mediocridades tais como preconceitos, sentimentos de superioridade , todo esse lote enorme de desculpas estúpidas para não vivermos em paz ...porque é que insistimos em não sermos felizes?


passear-me pelas avenidas de bancas carregadas de livros, alguns em segunda mão (são as minhas favoritas), livros que já ninguém lê, que alguém leu um dia, todos sem excepção marcados pelas dedadas amarelecidas e o característico cheiro a mofo e lagrimas...Esses livros são especiais, mais do que os outros, contam histórias para além daquelas que as palavras alcançam...ponho-me a pensar quantos desses livros não foram já motivo de histórias reais, das pessoas a quem pertenceram outrora....Ok eu sei, deixo-me envolver demais por estas coisas, “ São só livros” dizia-me alguém no outro dia, como se SÒ isso bastasse para me mover da convicção de que a leitura é bem mais do que um passatempo...
livrarias não eram excepção, páginas e páginas de amor e cumplicidade que deixamos esborratadas pelas estantes envelhecidas...- “O Cheiro dos livros é um afrodisíaco à leitura”- segredei para mim numa dessas romarias.
No dia 20 de Abril, estreou no Clube Estefânia em Lisboa a peça de teatro “POR UMA NOITE” de Pedro Neschling.

Adorava-mos vestir roupas iguais, trocávamos imensas vezes de fita, de bonecas e depois de já termos ouvido do Pai, saíamos para a rua de mãos dadas com tanta força, como se a adivinhar que um dia nos iriam separar assim...
Ansiedade, sono, livros, canetas roídas, cansaço, muito cansaço e o tempo que corre alienado a dilacerar os dias cada vez mais curtos e preenchidos. No topo, o receio, o sempre inconveniente medo que obstina e teima em não largar os pensamentos. Medo do futuro próximo e principalmente a longo prazo. Recuso-me a ser uma frustada, e muito menos uma acomodada a uma rotina, um emprego que não me satisfazem...e pensar que há tanta gente assim, disposta a abdicar dos seus sonhos por uma realização aparente iludida com falsas convicções resultantes de uma qualquer impossibilidade que surgiu no caminho...Não os culpo, a vida ás vezes “força-nos” a seguir caminhos que não aqueles que pensámos mas, ainda assim há sempre uma força que resiste a todas as pressões exteriores e mantém o vivo o Sonho...
Deixem-me dormir! Enquanto durmo não penso, sonho.
Almada fórun, Colombo, Vasco da Gama...
casas de espelhos, carrosséis...parece que se esqueceram de como é bom andar de carrossel.
Estava deitada na cama quando, de olhar ensonado reparei nalgumas gavetas que derepente imergiram do panorama azul do meu quarto. Há muito que não reparava nelas, na verdade já não me lembrava sequer da sua existência...
Há 20 minutos que esperava sentada no banco frio da estação. Comboios chegavam e partiam de minuto a minuto ao soar de uma voz repetitiva e enfadonha enquanto que por mim, passavam gentes apressadas, cada uma com a sua história, com a sua vida e o seu pensamento (por momentos, adoraria ouvi-las pensar) .
Parece que no dia 14 de fevereiro (curiosamente dia dos namorados ) se vai realizar uma reunião que tem como tema “A questão do uso do preservativo como meio de combate à propagação da sida” a ser discutido pelos bispos portugueses.
Possuíssemos a capacidade de alterar o passado?
O despertador disparou - “Bonjour, toujours à Paris risque de précipitation en début de matinée” - Um locutor, de voz abafada informava o estado do tempo…
luvas e cachecol, a “armadura” está pronta e - “Ala rua que se faz tarde”.
Uma breve corrida, e apresentasse-nos o
uma T-Shirt e travar conhecimento com mais um dos inúmeros emigrantes portugueses que na rua nos interpelavam com o brilho da saudade no olhar. De Regresso a casa, no ultimo comboio para a cidade universitária, cruzamos olhares cansados, enquanto lá fora tocava apenas uma musica que jamais esquecerei e da qual me lembro com nostalgia e saudade daquela cidade fria, estranhamente acolhedora, de luzes intermitentes, passeios cintilantes e arvores geometricamente cortadas sobre as amplas avenidas onde o glamour se entende lado a lado com a arte e a cultura...
A amizade, os amigos, pergunto-me muitas vezes se tais