"Cheira a terra molhada"
...e à chuva já só fico eu...
Quando tudo era paz, e as nossas vozes ecoavam límpidas lá, no pequeno vale que durante muito tempo foi apenas nosso, o que eu imaginava do Mundo, do futuro estava longe da realidade que a distancia impôs entre nós...
Naquela altura, não havia maldade, não havia tempo, havia uma casa onde nunca existiu tristeza e a nossa alegria contagiava os demais que por ali deambulavam deliciados com as travessuras constantes.
Adorava-mos vestir roupas iguais, trocávamos imensas vezes de fita, de bonecas e depois de já termos ouvido do Pai, saíamos para a rua de mãos dadas com tanta força, como se a adivinhar que um dia nos iriam separar assim...
Lembro-me do teu cabelo, era loiro (e como eu te invejava por isso) , da tua voz, dos traços delicadamente desenhados no rosto que ainda hoje , em horas mortas, quando me afogo em nostalgia imagino tal e qual, com a mesma ingenuidade infantil que o tempo nos tirou. E como era bom não ligar ao que Pai dizia...tantas foram as vezes em que, lá na terra, fugíamos para a chuva, descalças, dançando e esbracejando sobre a areia molhada, acabando por sujar os nossos maravilhosos vestidos. Quando mexias os lábios e dizias baixinho - “Cheira a terra molhada” - sabia imediatamente que a próxima coisa a fazer era descalçar os sapatos e correr para a porta da rua antes que alguém nos visse...
Depois vieram os adultos...O tempo fluiu sem nós, o Eu e Tu ficaram perdidos, espalhados pelos retratos que, hoje são para mim viagens preciosas mas mais do que isso, uma forma de me manter perto de ti, de Nós...*
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