É nestas alturas que reflectimos sobre aquilo que nos propusemos a fazer durante o ano...Do que fiz e do que ficou por fazer resultou a minha Lista de desejos para este novo ano que aí vem.

"Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas Confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer."


"No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade...
A núvem que arrastou o vento norte...
Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças... "
Florbela Espanca
À medida que os dias passam, que o frio aumenta e os aconchegos pesam cada vez mais sobre os nossos corpos arrefecidos chegam também a já habitual “azafama natalícia” ;) e esse estado de espirito estranhamente reconfortante tão típicos desta altura...
O tempo é para mim cada vez mais abstracto e menos linear, tanto pela sua inconstância como pela subjectividade que evoca...
Será que existe uma aura em cada um de nós?...o facto é que algumas pessoas pareçem irradiar uma estranha luz que vem de dentro e nos envolve sem razão aparente...
Experimentem
Desfaleci exausta na cama abandonada, larguei meu peso, espessura e forma sobre os lençóis envelhecidos, consumidos e depressa a noite se desdobrou na minha pele ainda com vestígios do dia que agora eu via dissipar lento e sereno nas paredes do meu quarto.
Contagiada pela sonolência tardia, movia apenas os olhos procurando algo que me alimenta-se o ócio que se instalava no corpo e lá estava no cinzeiro, um cigarro que ficou esquecido. Reacendi-o e por instantes limitei-me apenas a olhar aquela cinza que devagar se consumia sozinha...(“ás vezes somos como cigarros” pensei, “se nos acendem, ou somos consumidos ou consumimo-nos nós até já não haver “mais papel e químicos” por onde arder” ) . Num excesso de qualquer coisa, levei-o aos lábios sorvendo, em câmara lenta (como na TV) daquele fumo a cinzenta satisfação que lentamente se estendia do corpo a alma numa dormência que me congestionava os pensamentos e evocava memórias longínquas, dias remotos e sentimentos condenados à saudade eterna da melancolia...
Malditos "papel e quimicos"...
cultiva um gosto particular por pequenos prazeres: enfiar a mão até ao fundo de um saco com grãos, partir a crosta do leite creme com as costas de uma pequena colher...

ou atirar pedras ao canal de Saint-Martin...”

Sabem onde ela está?
Vejam o filme, "ela vai mudar a vossa vida"

Adimensionnel I
Senicitas-Salvador Dali
Momentos há que me sinto desvanecer num quadro de Dali, onde os pesadelos se convertem em nódoas mais ou menos escuras manchando o painel onde pinto sem talento os meus desassossegos...Vou-me perdendo no vazio da tela imensa, repleta de minúsculos traços que me gastam a alma, corroem as entranhas e dissipam o corpo em míseros estilhaços que agora repousam a meus pés frios, e já sem força para caminhar pelos os dias que passam...
Desinspirada, tento compreender a fusão de cores que se amontoam em pequenos vestígios do arco Íris... mas falha-me a percepção, o aparente apodera-se dos meus sentidos imobilizando-os numa dimensão que não a minha...
Caminhavas levemente pelos dias, com o passo apressado, muito mais do que o meu, e ainda que um passo teu fossem dois meus eu seguia a sombra do teus pés no plano infinito das ruas que atravessamos sem medo. Por vezes, agarravas-me a mão com a suave delicadeza que sem te aperceberes possuías e dizias-me “mais depressa” enquanto eu acompanhava o difícil ritmo do teu andar...
Deixada ao abandono, seguia triste, sozinha pela manha dolente...
Dos teus olhos resplandecem mil palavras,
“Gaudi iniciou a construção desta imensa catedral em 1886, com apenas 31 anos; morreu em 1926, aos 74 anos, atropelado por um eléctrico; os últimos 16 anos da sua vida, passou-os “fechado” na Sagrada Família, onde aliás, está sepultado. Segundo o seu projecto, a igreja teria três fachadas, mas ele só conseguiu concluir uma delas; as obras
Pouco a pouco perco a entrepidez, sucumbo à falta de força e vontade de olhar.
Inebrio-me pela noite.
Despida, esquecida no plano infinito do entardecer ,procuro a serenidade na luminosidade diáfana aconchegando-me ao crepúsculo e observando o declínio lento, ondulante do sol extinguir-se no reflexo dourado da parede do meu quarto...Caídas no chão, fotografias, palavras e fragmentos de memórias despropositadamente amortecidas pelo o tempo...
Adormecida, como que embriagada pela doce nostalgia do inverno , aqui me deito observando a sonolência da tarde levar-me nos reflexos dourados para outros céus, que não este que se dissipa sobre mim. Submissa à melodia inebriante da saudade e, com olhar perdido permito-me, afundo-me na imensidão de sonhos disfarçados, ansiedades e desejos platonicamente escondidos, tantas vezes retraídos e acumulados na veemência da inquietação da alma e do corpo...Ah! que inoportuna é a persistência desmedida dos desejos indesejáveis...
Há uns dias pensava eu como é estranho uma coisa tão linear como tempo ser definida pelo o movimento cíclico de um relógio, admirável contradição esta.
Espanta-me o modo como algumas pessoas se refugiam no egocentrismo e se idolatram constantemente. Esta é mais uma forma de defesa criada pela necessidade irracional de nos sentirmos superiores relativamente a todos os outros. No fundo a exagerada importância dada a própria pessoa só revela fragilidade e uma excessiva ou pelo contrario inexistente oferta de...( É incrível como um mesmo comportamento pode ser originado por duas variantes de um mesmo “estimulo”)
Hoje fui à Boca do inferno num tipico passeio familiar de domingo. A boca do Inferno , para os que não sabem, situa-se na costa da bela vila de Cascais, é uma reentrância da costa cercada de rochedos escarpados e de cavernas, em que o mar ao embater em dias de temporal proporciona um espectáculo admirável.