Como é estranho o tempo...


Há uns dias pensava eu como é estranho uma coisa tão linear como tempo ser definida pelo o movimento cíclico de um relógio, admirável contradição esta.
O relógio é sem duvida um objecto indispensável e muito útil em qualquer situação, mas seremos nós escravos do relógio?
Sim somos, é impossível não o ser já que o tempo é a matéria prima da qual são feitas as nossas vidas, tornámo-nos escravos de uma ideia de tempo criada por nós...
Por outro lado, viver equilibradamente nesta sociedade moderna (e cada vez mais exigente), significa estar em sincronismo com diversos sistemas que tendem a controlar os nossos ritmos diários, sistemas esses baseados fundamentalmente no tempo ,daí a nossa total submissão ao tempo e ao relógio. (Imaginem agora que os relógios paravam sem arranjo possível, é quase inimaginável ...) . É inegável a importância e a necessidade desta submissão abstracta e simultaneamente concreta...Portanto , esta relação, Homem - relógio, relógio - tempo, é uma forma de simbiose uma vez que a invenção do tempo se deve ao homem e um não existe sem o outro embora hoje , seja a invenção quem controla o próprio inventor (virou-se o feitiço contra o feiticeiro).
No entanto, apesar do incontestável carácter linear do tempo tudo se torna relativo quando se remete para a esfera das emoções, das memórias e dos sentimentos. Nas nossas vidas os minutos, as horas, os momentos existem despercebidamente cobertos na nossa ânsia, sucedem-se irepetidamente, sempre com uma duração enganosamente diferente. O tempo parece não correr da mesma maneira quando o prazer e o desejo se conjugam, quando as vontades se misturam nos sentimentos alterando, desafiando o tempo com o descaramento típico dos sentimentos que se escoam nos corpos de quem os sente. E mesmo nestas alturas, somos atraiçoados pelo tempo, pois é quando fazemos coisas das quais retiramos algum prazer e quando estamos com pessoas que nos arrancam sorrisos que o tempo foge , passando por nós velozmente e nós passando por ele sem o agarrar. E o que era presente, passa a recordação, o que era instante torna-se eterno, pois nada há mais imortal que a fragilidade cristalina das memórias. A memória é livre, nela o tempo torna-se intemporal sucumbindo a selvagem vontade da consciência que manipula tudo o quanto nela existe a seu belo prazer...
E já sem tempo para mais palavras ,aqui me deixo neste pedaço de tempo que agora termina.

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