Before sunset, outra e outra vez...


Dentro da Cúmplice existem muitas Cúmplices. Tal como dentro dos Ricardos, das Marias, dos Luizes, dos Antónios, das Margaridas e dos Tiagos e das Saras e dos Josés e dos Carlos e das Carlas. Somos todos muitos cá dentro, muitos lá para fora, muitos para nós próprios, quando estamos sozinhos com os nossos pensamentos, e, de vez em quando, uns para algumas pessoas e outros para outras. E todas nós, todas as Cúmplices reencontrámos Céline e Jesse, nove anos mais velhos, como nós, nove anos mais cínicos, como nós, nove anos mais românticos, como nós e apesar de tudo.
É certo, não cheguei ainda, no bilhete de identidade, ao cinismo trintão, retro(intro?)spectivo de nenhum deles, não tenho filhos nem casamentos falhados atrás de mim, mas de tudo o que a vida deu e tirou, de todas as músicas e silêncios, de todas as asneiras e passos em falso, das viagens e das paragens e mais que qualquer outra coisa, dos amores e desamores dos meus curtos mas cheios dias, retirei um je ne sais quoi de trintona precoce, seja lá isso o que for, que me deixou ontem e mais uma vez eufórica e deprimida, desconfortável e demasiado dentro do filme do Linklater, escrito em parceira com o Ethan Hawke e a Julie Delpy, esses grandes, grandes sacanas.
Ao longo do filme, desfila o que eles foram durante os nove anos de separação, e com a tensão presente desde o primeiro minuto, algures desfilava no écran aquilo que eu fui, coisas que eu vivi, momentos embaraçosos iguais aos meus, as minhas crenças e as minhas tristezas, as minhas alegrias e a minha solidão e a minha Nina Simone, as minhas músicas e os meus namorados, os bons e os maus.
E no fim do filme, olho para a Sara e na cara dela, o mesmo ar meio neurótico de quem, a rir, tem muita vontade de chorar e se sente violada no mais íntimo de si por um filme, porra, um pedaço de película de m****, pah. É ficção!
Mas então, porque se é ficção, e porque se é mesmo só um filme, porque é que mexe assim connosco? Porque é que nos sentimos expostas assim, eu e ela, de vidas tão diferentes, sentadas num sofá às escuras a olhar a nossa vida ao espelho, como tanta gente que já viu e, provavelmente, sentiu o mesmo desconforto e a mesma identificação irracional?
Porque não encontrámos respostas a nada, rendemo-nos à insanidade proporcionada e escolhemos não questionar mais o que somos, se cínicas, se românticas, até porque no fundo, somos as duas coisas. Tal como os outros todos, vocês todos que são tanta gente aí dentro das vossas cabeças e já foram e são e vão continuar a ser, Céline e Jesse, tantas vezes ao longo das vossas vidas. Se é bom, se é mau, não saberia dizer-vos nem que quisesse - e não quero - mas para mim, e na certeza que a grande maioria discordará, este é um dos filmes mais bonitos que vi na vida. Como naquela cena no "Beleza Americana" em que ele chora com a beleza de um saco de plástico a voar, este filme é feito de pequenas coisas tão insuportavelmente bonitas que pela primeira vez em muitos anos, o bonito me doeu aos limites da esquizofrenia.
Dos diálogos brilhantes aos pequenos gestos, o grandioso deste filme bebe a sua magia na contenção. Uma contenção esmagadora. Assassina. Fatal para os fracos de coração.
E eu sou uma fraca de coração que nunca mais fui a mesma até hoje. As silly as it may sound, o raio do filme partiu-me , parte-me , e partir-me-a sempre aos bocados.
Para Elas...

Naquela altura não passávamos de miúdas, o mundo era estranho (ainda é) e o Kurt cobain era vivo. Tínhamos as nossas paixões assolapadas mas nunca gostamos dos mesmos rapazes, já sabíamos que o mais importante éramos nós, as melhores amigas do mundo inteiro. Eu era a miúda que gostava de caminhar pela linha do comboio, deixar pedras nos carris e equilibrar-me ao longo do caminho - vocês já não achavam tanta piada a isso, às vezes zangávamo-nos, mas éramos atinadas. Tínhamos boas notas sem estudar muito, (sem estudar nada). As vezes íamos para a varanda da Margarida estudar, pois sim...Comprávamos as nossas revistas parvas, a Super PoP, a Bravo e mais tarde quando já nos achávamos “grandes” , a ragazza [eu sei que ainda a compras sara, mas não conto a ninguém;)].
A viagem a Paris, momento “fatídico” nas nossas vidas, vivemos com intensidade aqueles dias passados na cidade luz, chorámos, chorámos tanto no abraço umas das outras lembram-se? Quiseram-nos separar, e por algum tempo acreditei que conseguiam. Traímo-nos umas às outras, estúpidas!! A Sarah num grupo diferente, eu e os rapazes, a margarida e as miúdas da turma C...morri de ciúme e engoli-o para não perceberem que me afectava, que me irritava andarem de um lado para o outro como se fossem as melhores amigas, mas não eram e quando nos apercebemos voltamos para nós, chorámos outra vez e perguntámo-nos meio a rir, meio a medo, se aos dezoito ainda íamos ser amigas. Que disparate. Claro que sim...Nem tudo foi mau, tínhamos um quarto só nosso onde queimávamos incenso a toda a hora, tínhamos os cremes, vernizes espalhados na mesa encostada a janela com vista “pour lá université” e no armariozinho ao lado, as bolachas que todas as noites eram motivo de saques...e por mais anos que passem nunca me hei-de esquecer daquela noite em que uma febre esquisita não me deixou dormir e tu mana, ainda que perdida de sono, passas-te a noite do meu lado a pôr-me panos frescos na testa para a febre baixar -um gesto de amizade comparável ao segurar a testa de alguém quando vomita. Quiseram-nos separar e ”virou-se o feitiço contra o feiticeiro” (se tivesse algum provérbio preferido seria este).
Depois da viagem, vieram os anos do Edson e a minha primeira saída para Almada velha, o Manecas, a Tasca do cão e mais tarde a Cerca da noite, noites longas que lá passávamos. Os namorados, os flirts...As incursões a Lisboa e as varandas dos cacilheiros no por-do-sol. O karaoke na casa da margarida (guarda bem essa cassete esteja ela onde estiver, pode ser a nossa desgraça). O primeiro cigarro no sótão, as t shirts compridas do Mário que usávamos para disfarçar o cheiro , eu ria-me porque isso não tirava o cheiro dos dedos e gozámos muito porque afinal, aquilo não fazia tossir (só Á Sarinha, vais-me odiar depois disto lol). Depois corríamos para o elevador, mas antes escondíamos o maço entre as telhas do telhado com medo de ser descoberto e desconfio que ainda lá esteja...E desse primeiro cigarro, as primeiras tonturas, os nossos grandes desatinos, outras descobertas ainda menos salutares. Os caminhos, minhas amigas, andaram separados, cada uma seguiu o seu caminho como tinha de ser, mas sempre, sempre, sempre, bem cá no fundo, estavam ( estão) vocês. Sempre foi para vocês que regressei, sabem disso. Foram sempre vossos os primeiros braços que procurei a cada regresso. A cada pedaço de coração partido. A cada partida. Partilharam (e partilham) tudo comigo e eu com vocês.
Hoje, olho para vocês passados estes anos, que nem foram assim tantos (mas os suficientes para encher de recordações uma caixa de sapatos forrada a papel de lustro com borboletas) , e tenho orgulho das pessoas bonitas que se tornaram. Continuam a ser vocês, confidentes, amigas, irmãs. O que sentimos não se compara a nada no mundo, sempre dissemos que bastava uma de nós ser do sexo oposto para estarmos casadas e é mesmo assim, mesmo assim. Os laços que nos unem são mais fortes que qualquer outro, os vossos namorados sempre o souberam, os meus também, nunca pudemos gostar deles com tanta força. Ninguém entende os meus silêncios como vocês, ninguém entende os vossos abraços como eu...


Desculpem-me a repetição, mas elas merecem.
POP UP hour...


Todos os sábados às 14.30 na rtp2 sou audiência deste programa que fala da cultura urbana, das novas tendências em áreas como a musica, teatro, moda etc no formato alternativo que esta estação televisiva nos tem vindo a habituar. A rtp2, que se por um lado me surpreende, deixa ainda margem para algum descontentamento pela forma como, a meu ver, é deixada ao abandono na vez de ser aproveitada e explorada. Mas voltando ao POP UP, bom programa, bom formato a uma boa hora mesmo para os friday night loverss.

Recebi há uns dias (um ano) por mail (merci carlos) e nunca concordei tanto com o MEC. Que se lixem os amores arrumadinhos, viva a paixão desenfreada e a dor de corno.

Elogio ao amor

(Miguel Esteves Cardoso - Expresso)


"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for
incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade.
Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito.
Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido.
Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama.
Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".

O amor passou a ser passível de ser combinado.
Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.
O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.
A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível.
O amor tornou-se uma questão prática.
O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.

Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos,
bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha.
Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".

Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso.
Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice,facada, abraços, flores. O amor fechou a loja.
Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor.
É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz.
É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor.
A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição.
Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe.

Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma.
É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária.
A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.


O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida.
A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre.

Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente.
O coração guarda o que se nos escapa das mãos.
E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um minuto de amor pode durar a vida inteira.
E valê-la também."

Pipocas, incenso e jeff...

A campainha toca, ouço-as subir já naquela algazarra tão típica de quando nos juntamos. Trazem pipocas, eu tenho o incenso, as velas, o jeff e eventualmente um filme que começamos a ver e raramente terminamos...As vezes dormem por cá, quando a noite já vai alta e a conversa animada, tanto que a minha mãe nos faz um lanchinho de “meia noite” antes de se deitar e termina com um “Boa noite meninas, não se deitem muito tarde e tenham cuidado com o barulho” Qual quê... gargalhadas e gargalhas que ecoam do meu quarto noite fora . Elas não partilham muito do meu gosto musical, mas respeitam-no, as vezes dizem “só tu Andreia, para gostares disto” mas no fundo, a cada sessão vão-se convertendo aos meus gostos musicais e cinematográficos e até já suportam “os berros do Jeff” e os “francesismos” da Amelie. Somos diferentes é certo, e o que à partida parecia ser motivo de discórdia é o que mais nos une. A amizade é um lugar estranho, onde nós gostamos de estar...
Modo: F É R I A S


Já não me lembrava de como é bom não ter nada para fazer e puder preencher o dia com coisas inúteis como rebentar bolinhas de plástico.


...inércia suprema, escrevo isto com uma mão para continuar a rebentar bolinhas com a outra ah ah.
Apontamento: Voltar...


Em seis anos de ausência, anseio pelo mesmo amor que senti ao percorrer as ruas e avenidas de Paris. Era incapaz de lá morar, mas há qualquer coisa, “quelque chose” em Paris, um “je ne sais quoi” que me remete em saudade e vontade de lá voltar... Quero rever os pintores de Montmartre da minha Amelie Poulain, as bancas intermináveis de livros e vinil antigos, o carrousel.., comer um “Crêpe au chocolat” no meio da rua, beber qualquer coisa quente num bar em St. Michel e perder-me pelo imenso cinzento nostálgico que lhe fica tão bem. Um dia destes pego na mochila e "lá vai ela..."
A não perder.


"O Poder da Arte" é o título da exposição que a Fundação de Serralves realiza na Assembleia da República, em Lisboa. São cerca de 80 obras de 50 artistas contemporâneos, nacionais e estrangeiros, que pretendem criar "um diálogo de confronto com o espaço onde são apresentadas". Pintura, escultura, vídeo, instalação. Rui Chafes, Paula Rêgo, Júlio Pomar, Pedro Cabrita Reis, Claes Oldenburg, Helena Almeida, Julião Sarmento... Enfim, a coisa promete. Até ao próximo dia 16 de Abril.

...e a entrada é gratuita, por isso não há desculpas de falta de "tempo".