Nunca te escrevi.


Nunca te escrevi, mas não penses que por desinteresse ou desamor. Nunca te escrevi porque o mundo das palavras é traiçoeiro e desta vez, eu quero que seja diferente. Quero que as palavras que existam entre nós sejam mais do que amontoados de letras todas juntinhas em frases bonitas e floreadas. Quero, gostava, que fossem a materialização dos sentimentos…verdadeiras como os sentimentos, nuas a cruas como as emoções. Não que a escrita negligencie a pureza das palavras e dos sentimentos por de trás das palavras, mas “o poeta é um fingidor”… e é fácil escrever-se mais do que se sente: a voz não treme, os olhos não brilham e o leitor entoa para si as palavras da forma que mais quer ouvir.
Mas tu és demasiado real para te perderes e me fazeres perder com superficialidades. Tens o cheiro das coisas idóneas, reais…cheiras a terra molhada depois da chuva…foste, és a minha enxurrada. E agora, de alma lavada te escrevo sobre o que já sabemos os dois, mas que ainda que supérfluas, as palavras têm o poder de eternizar desta forma bonita…

“Não há palavras mais verdadeiras do que aquelas que dizemos em silêncio…”
Não me reconheço.

Pensar que as decisões que tomamos hoje têm repercussões faraónicas amanhã, carrega-me os ombros de um peso que não me é agradável. Se não houvesse amanhã será que estaria a fazer o que faço? Se morresse agora, morreria feliz? E vezes há em que prefiro não pensar muito nisto por medo das respostas e quando isso acontece…não me reconheço.